Poderia tentar descrever a sensação de representar numa peça em que contamos a história de pessoas sem nome, pessoas que procuram fugir de terrores inimagináveis ou de uma miséria que não imaginamos possível. Hoje ou há 60 anos. Poderia dizer-vos que tentamos sentir na pele o abandono do mar, o vento e a luz que não sabemos se é vida ou morte.
Mas não vou tentar fazê-lo, porque sei que em nada se compara às sensações vividas por aqueles que realmente vivem as histórias que contamos. Seria injusto tentar pôr-me no lugar deles e delas, enquanto escrevo sentada confortavelmente, na minha casa, no meu país de paz, na minha segurança, e me lamento dos meus problemas diários que na verdade não são mais do que inconveniências.
Vemos relatos de crueldade inexplicável com quem foge da guerra e do terror ou da miséria nas suas casas. Vemos e ouvimos disparates xenófobos, alarmistas e desumanos de quem não consegue olhar para trás e ver a história do seu próprio povo, ou olhar para o lado e pôr-se no lugar do outro. Ouvimos as histórias dos nossos pais, avós, tios, que nos contam de quando fugiram da miséria ou da ditadura, a salto, até França.
AURORA é história destas pessoas sem nome, de lutas sem fim à vista, do mar que nos entrega a qualquer lado. De quem luta por uma vida qualquer, enquanto os outros "dançam até à exaustão".
Nas palavras do nosso encenador, João Ferreira:
Aurora,
Um poema em sete cenas.
Para as mulheres e homens que nunca chegaram a partir,
Para as mulheres e homens que partiram.
Para as mulheres e homens sem nome.
Aurora é o início.
Um céu e um mar imensos e, entre eles, nós.
Aurora é o ponto de partida deste espectáculo. É o nome de uma mulher comum. É o nome de uma dessas mulheres comuns – das que seguram o mundo com as mãos, das que nos dão vida e nos vêem partir, das que são mulheres de mãos cansadas e corpos direitos, num mundo que lhes é mais difícil, sem que nada o justifique.
Num tempo cheio de tempos, num lugar cheio de lugares, estamos todos nós em viagem, com histórias que se confundem e fundem numa só. Estamos nós encolhidos e abrigados numa jangada à deriva, onde nos questionamos sobre o que deixámos para trás, sobre o que nos fez partir. Suspensos num mar imenso, estamos nós e as nossas memórias e os nossos medos.
E há um nevoeiro que nos tira a clareza do pensamento, que nos deixa fantasiosamente distantes deste mar, que nos transforma em “nós e eles”.
Mas o mar ninguém esconde.
“Eles”, sem nome, à deriva…
AURORA, in skené - Companhia de Teatro
5 a 8 de Março
Auditório Municipal de Gondomar
RESERVAS
Bilheteira do Auditório Municipal de Gondomar
E-mail: inskene@gmail.com
BILHETES
Estreia: 2,5 euros
Normal: 5 euros
Estudante: 2,5 euros
Grupos (superiores a 10 pessoas): 2,5 euros
Sócios in skené: 2 euros
Estreia hoje. Vemo-nos lá? :)
������Sim. Com o coração a rebentar de orgulho e comoção ��
ResponderEliminarDeve ser um espetáculo mesmo incrível, que nos faz questionar a posição priveligiada que muitos de nós temos e não valorizamos.
ResponderEliminarBeijinhos
Blog: Life of Cherry