A originalidade existe?

Isto de ser "original" tem muito que se lhe diga. 

Para dar a minha resposta a esta pergunta com "sim ou não", "preto ou branco", eu diria, embora a custo: não. Já o senti na pele, já vi o debate a acontecer ao meu lado, assisto todos os dias a conteúdo e ideias que cada vez me convencem mais disso, e sei que eu própria sou vítima deste efeito. Acredito piamente que todos somos um produto do que nos rodeia. A nossa história, o nosso contexto, a actualidade, o mundo que nos rodeia, a nossa família, amigos, relações, o nosso poder de compra, os livros que lemos, os filmes que vemos, a situação política, as notícias, (e podia continuar esta lista) constituem estímulos que alimentam o nosso processo criativo e que o influenciam. A nós e a quem nos rodeia.

Um exemplo: há uns anos escrevi um post com um título que eu julgava meio cliché e, nesse post, referi uma pessoa que o tinha feito pouco tempo antes e que me inspirou a fazê-lo. E, entretanto, outra pessoa informou-me que tinha feito algo semelhante uns meses antes (e de facto eu acho que até tinha visto esse post, mas na altura não me lembrei dele) e que por isso gostava também de ver o seu nome citado, por desconfiar que teria sido alvo de plágio. Nada contra isso, e fi-lo com todo o gosto. No entanto fico na dúvida se de facto seria um caso de plágio ou apenas uma coincidência.

Outro exemplo? Imediatamente depois desse episódio escrevi o título deste post que estão a ler agora mesmo e deixei-o a marinar nos rascunhos. Uns meses depois, a Inês escreveu este post precisamente sobre este tema. É óbvio que eu sei que tive esta ideia e porque razão a tive, mas ela também a teve, e certamente por outro motivo porque não sabia da história acima. Duas cabeças diferentes, o mesmo tema. E dois posts perfeitamente legítimos e distintos - mas imediatamente guardei o link dela aqui para poder referi-lo e, assim, acrescentar mais conteúdo a esta discussão.

Mais exemplos? Todas as músicas que soam a... e em que outras mil letras encaixam. Todos os momentos em que subo a palco e penso que estou a fazer uma performance única, apercebendo-me que a minha personagem soa a outra qualquer que fiz antes ou que vi alguém fazer. Algumas das minhas fotografias são inspiradas num ou numa d@s mil fotógraf@s cujo trabalho sigo, e normalmente só vejo essa semelhança quando vejo um trabalho de alguém depois de ter o meu pronto. Sei que o meu olhar se treina não só por "inspiração" mas também por observação do olhar d@s outr@s.

Como podemos definir o limite entre a coincidência e a cópia quando estamos a falar de um processo criativo? Como saber se uma ideia é única, ou se é algo comum e que facilmente pode surgir em várias cabeças em simultâneo? Não tenho uma resposta para isso. Na verdade, não me parece que alguém, pensando de boa fé, tenha.

A propósito deste tema, e com um contributo valiosíssimo, o Jamie Windsor tem um vídeo em que nos fala de influência, de ideias, do conceito de "white canvas", e de criptomnésia - um termo que desconhecia até ver este vídeo e que define o estado de termos uma percepção distorcida de algo ser ideia nossa ou de ser uma memória.

E por falar nisto, preparem-se para o desafio do Retratografia deste mês - depois digam-me o que pensam desse post!

Agora desse lado: 

Não quero com este post chegar a nenhuma conclusão, porque se trata de uma questão altamente subjectiva, mas sim acrescentar uma pitada de sal a todas as vezes que achamos que estamos a ter uma ideia única ou que alguém nos copiou. Acham que há espaço para a coincidência ou parece-vos pouco provável?