Este não é um assunto simples de abordar.
Não é, de todo, um em que eu possa sequer afirmar que sei o que estou a dizer. Porque não tenho qualquer experiência nele para além dos ocasionais desequilíbrios que qualquer ser humano sofre e que sim, esses "passam" se não pensar nisso.
No entanto, isso não quer dizer que não tenha contacto com doenças mentais - a depressão e a ansiedade sendo as que posso dizer que "conheço". Basta olharmos à nossa volta, e numa sociedade com o seu lado egoísta, stressado, e meio doido como temos, não é difícil encontrar estímulos para que alguém que esteja mais propenso a sofrer com estes problemas veja o seu mundo virado do avesso. Com consequências muito sérias, repercussões graves, e com tratamentos difíceis. Mas não impossíveis!
É por isso que, mesmo não conhecendo esta realidade ao pormenor, nem tendo qualquer formação que me permita vê-la com uma perspectiva mais clínica, acho importante que falemos dela. Porque devemos aprender, quebrar tabus, desfazer preconceitos, e trabalhar a nossa atenção e empatia com quem nos rodeia.
Não consigo entender a ideia de que uma doença mental é só "estar triste", é só "estar em baixo", é só "uma fase", é só "não querer fazer nada da vida", ou então é "ser maluco" e "não falemos nisso" - não estou a inventar isto, como podem ver neste artigo em que se relata que auto-proclamados profissionais de saúde tratam ainda a depressão como um estado emotivo e não uma doença. Estas avaliações podem vir de todo o lado. Amigos, conhecidos, familiares, pais (sim, pais). Uma depressão não implica que quem dela sofre ande sempre a chorar pelos cantos e com cara de quem carrega o Mundo às costas - o problema é que, de facto, às vezes carrega mesmo e não pede ajuda, preferindo mostrar o seu melhor sorriso. Porque não sabe como a pedir. Porque tem medo. Porque não quer ser "o maluco". Porque...sei lá eu.
Só posso apresentar a perspectiva de fora, porque da perspectiva do doente, não posso dizer que compreendo - não, não sei o que se sente. Não passei por lá. Já estive triste, já chorei imenso, mas não sei o que é sentir esse tipo de desespero. Sei o que é estar do lado de fora e ver que tudo isso é obra de um cérebro com as ligações trocadas, com os químicos desequilibrados, com memórias tóxicas a distorcer a realidade.
Tenho vindo a pesquisar e a descobrir mais sobre este tema nos últimos tempos e devo dizer que há uma coisa que todos podemos utilizar para ajudar: empatia. Não no sentido de "não te preocupes, não penses nisso", porque ninguém está mal por opção, nem de "eu sei o que isso é, isso passa". Mas sim no sentido de ouvir. De tentar encontrar soluções para os pequenos problemas. Às vezes basta estar lá quando é preciso. De não impingir um "não penses nisso" a cada suspiro, mas sim um "já foste ver um médico? Em que posso ajudar?", e perceber se de facto são a pessoa certa no momento certo (porque também podem não o ser). De ser activo, porque também não podemos cair no erro de nos deixar arrastar pela doença e aceitar que "aquela pessoa é depressiva e pronto". Lutar juntos, mas sem nunca cair no erro de acharem que a vossa missão de vida é ser "muleta". Devem ser um apoio, puxar para cima, mas sem nunca se deixarem ir para baixo - quantas vezes quem tenta salvar alguém de se afogar sem saber como, não acaba por se afogar também?
Deixo-vos com um desabafo de uma das minhas youtubers preferidas nos últimos tempos, a Dodie Clark do Doddleoddle. Que é uma querida. Uma alegria de miúda. E que sofre de depressão. Como vos disse, não é por termos um sorriso do tamanho do Mundo que não temos um monstro do tamanho do Universo dentro de nós. Que eventualmente, nos vai deixando em paz, como ela foi mostrando em vídeos publicados depois deste - e, se virem o vídeo, por favor vejam até ao fim!
On a happier note, esse monstro não tem que ficar aí viver! Com a ajuda certa, apoio clínico e psicológico, com apoio, e sim, com força de vontade, é possível melhorar. É possível voltar a respirar sem o peso - já vi isso a acontecer, portanto é possível. One day at a time, mas sempre tendo em conta que o futuro é aquilo que quisermos fazer dele.
Não sei que pergunta vos faça hoje. Deixo o Fórum aberto - é espaço para tudo o que quiserem!
Lots of love for everyone!
Ainda nesta semana tive uma conversa com duas amigas sobre isto. Sobre a dificuldade que é lidar com pessoas que estejam psicologicamente doentes. Eu por mim falo, custa-me muito perceber algumas dessas pessoas e muitas vezes fico sem jeito por não saber como ajudar. Falamos também sobre a dificuldade que é convencer essas pessoas que estão doentes, principalmente se já têm alguma idade. "Eu não vou ao médico, eu não estou tolinho/a!" é o que mais ouvimos. Já é difícil saber qual a melhor forma de ajudar, pior ainda se não se deixam ajudar. E também já lidei com o outro lado: querem que lhes digam que estão muito doentes e só ficam felizes assim. Se não dizemos, numa tentativa de fazê-los sair daquele estado, dizem que não nos preocupamos o suficiente. E a verdade é que a grande maioria dos médicos de hoje não sabem lidar com muitos destes pacientes. Espetam-lhes com uma data de anti-depressivos e siga! Claro que em muitos casos a medicação ajuda e é necessária. Mas noutros não se trata apenas disso, na minha opinião. É preciso muita conversa e muita paciência. A medicação acaba e os problemas voltam. Isso para mim não é tratar. Enfim, precisava da manhã toda para comentar este assunto! :) Bom post como sempre Jiji! <3
ResponderEliminarSão coisas demasiado complicadas para que se possam entender com facilidade - mas lá está, quando não "percebemos" (e eu própria não percebo e sinto exactamente a mesma dificuldade que tu!), às vezes o melhor é mesmo ajudar a procurar ajuda decente...se a pessoa aceitar. Porque nem toda a gente tem o discernimento necessário para assumir que precisa de ajuda - mas acho que grande parte dessa dificuldade está fortemente baseada no preconceito de que ter uma doença mental é uma vergonha e sinal de fraqueza...não é. É o cérebro a funcionar mal! E nesses casos, pouco há a fazer para além de tentar minimizar os estragos, é verdade...
EliminarEssa coisa dos medicamentos é tão verdade! Tanta gente que melhorava com mais facilidade com psicoterapia...mas é mais fácil "apagá-los" com antidepressivos e coisas que tais. Mas isso era material para discussão por horas a fio!
Luto contra a ansiedade desde criança, ainda na Escola Primária (muito cedo, sim) e se houve fases boas em que praticamente não a senti - consegui controlar relativamente bem durante uns anos e durante esse período não fui presenteada com um ataque de pânico, por exemplo - por outro lado também houve outras alturas e fases absolutamente desesperantes e incómodas.
ResponderEliminarPor isso, sim, acho importante que pessoas sem ligações às doenças de foro psicológico também tentem desmistifica-las - há uns tempos recusava-me a chamar-lhes doenças mas é o que são e devemos chamar as coisas pelos nomes.
Há cerca de dois anos (já?) comecei a escrever sobre este assunto no meu blogue e fiquei surpreendida com a quantidade de pessoas que me deram os parabéns por tal atitude e que começaram a escrever nos próprios blogues sobre o assunto. Houve até duas meninas que me disseram que, depois da minha primeira publicação, tinham procurado ajuda especializada - fiquei tão surpreendida e feliz por ter um impacto positivo na vida de alguém que continuei a escrever porque senti que estava a ajudar outras pessoas com o mesmo problema.
Espero que, com o tempo, este tipo de coisas deixe de ser visto como "mariquice", tristeza ou mimo. É muito mais do que isso. São doenças que também têm repercussões físicas.
Acho importantíssimo que se fale destes temas tanto na perspetiva clínica como pessoal como de alguém que está de fora, como tu fizeste hoje. Obrigada por isso.
E convido-te a ler - se é que ainda não leste - as publicações sobre este tema na minha categoria "Saúde" (http://iamtheluckythirteen.blogspot.pt/search/label/Sa%C3%BAde).
É tão bom teres abertura para falar sobre o teu próprio problema, Carolina! Tenho acompanhado as tuas publicações sobre o assunto e acho que são precisos mais exemplos como o teu: a prova de que sofrer de ansiedade não é nada tão "anormal" quanto isso, a prova de que falar sobre o assunto ajuda muita gente. Acho mesmo louvável a tua perspectiva sobre o assunto! :) E é óptimo que já tenhas conseguido melhorar a vida de algumas pessoas com esse teu acto de coragem!
EliminarAntes de mais... péssima fotografia para um aracnofóbico como eu! haha. De facto, ainda existe um estigma enorme com as doenças de foro psicológico. Tenho um familiar muito próximo que lida com depressão há muitos, muitos anos, e é terrível. Cálculo que varie de caso para caso, mas é muito inconstante. A doença é capaz de ficar adormecida durante um período de tempo, mas nunca desaparece. Quanto à ansiedade, já sofri na pele. Sou bastante ansioso e há alturas em que até custa a respirar, tenho dores no peito, you name it. Confesso que nunca consultei um médico sobre isto (excepto as dores no peito), talvez por não lhe dar a devida importância. Por isso é que é tão importante abordarem-se estes tópicos, quer da perspectiva científica, como da leiga.
ResponderEliminarRicardo, The Ghostly Walker.
Ahah peço imensa desculpa, Ricardo! Realmente não foi bem pensada :p
EliminarPois, também já vi casos semelhantes de fases melhores e piores. É uma situação muito complicada... quanto à ansiedade, experimenta falar com um médico - é sempre melhor estar "vigiado" e saberes como reagir a esses ataques! Alguns amigos meus melhoraram muito com terapias relativamente simples, dá-lhes uma hipótese! :)
Uma aracnofóbica assim como eu e uma foto dessas não conjugam muito bem ahah
ResponderEliminarMas a ansiedade é realmente algo muito mau. Eu já tive uma depressão e custou bastante para voltar a ser uma terça parte da pessoa que eu era e, sinceramente, tenho receio que volte a acontecer mas espero que não seja esse o meu caso! Sobre a ansiedade continuo a sofrer e muito com isso mas não quero falar com nenhum médico e a última vez que fui só referi as dores no peito que faziam com que custasse a respirar. Acho que este tema é muito importante de ser abordado!
Há giveaway a decorrer no blog! Participa!
Beijinhos
http://that-g-i-r-l.blogspot.pt/
Fico mesmo contente por teres conseguido sair dessa situação, Melanie! :) Foca-te no facto de seres forte o suficiente para dar a volta, tudo vai correr bem! <3 Quanto à ansiedade, isso é um problema que infelizmente está a tornar-se tão comum que, só posso dizer o mesmo que disse ao Ricardo: os médicos estão cá para ajudar! E às vezes tratamentos simples ajudam muito!
EliminarA propósito disso, espreita os posts da Carolina no LUCKY 13 :)
EliminarOlha, eu sofro das duas e que bom que foi ler este teu texto.
ResponderEliminarEm primeiro lugar, parabéns pelo bom senso de procurares mais sobre a doença e tentares perceber o que é necessário para alguém que está de fora ajudar.
Uma das coisas que me aconteceu foi ficar sem amigos, praticamente. São coisas que se podem arrastar durante anos e, ficar sem eles, logo no início é uma chapada que ninguém merece. Se as pessoas tivessem a atitude altruísta de nos tentar perceber, como tu fizeste, acho que sofreríamos muito menos.
E é verdade que nós podemos andar sempre a sorrir, sem nunca demonstrar o que vai cá dentro. É o que faço, sempre que saio de casa (o que acontece poucas vezes, mas mesmo assim...)
Felizmente, tenho uma irmã e uma mãe que me apoiam incondicionalmente, senão não sei onde estaria, neste momento.
Também acredito que, um dia, pelo menos a depressão, irá passar. Mas sei que primeiro vou ter de arranjar uma ocupação, conhecer pessoas novas que mostrem preocupação, que estejam para mim da maneira que descreves... Porque se já é péssimo ter de passar por tudo, quando se é uma pessoa querida e mimada por uma enorme quantidade de pessoas, imagina só como é quando as pessoas desistem de ti.
Enfim, obrigada por abordares o assunto e dares estas dicas que, prometo, são mesmo úteis. Às vezes, só precisamos de um "Como estás?", para ficarmos um pouquinho mais alegres.
(Agora, vou ver o vídeo. Obrigada por partilhares esse testemunho, também. Ainda não vi e já sei que vai ajudar.)
Antes de mais, obrigada pelo teu comentário <3 infelizmente acabei por ter que compreender esta realidade quase "à força", porque não conseguia abandonar os meus amigos numa situação assim. Talvez porque desde miúda sempre dei muito valor à amizade e ao que ela significa, com o que isso tem de bom e de mau, e isso levou-me a adaptar-me a novas realidades...infelizmente nem todos vemos as coisas assim, mas isso só diz mais sobre quem tinhas ao teu lado e te abandonou, do que sobre ti e a tua doença. Percebo, sei, que às vezes vendo de fora não sabemos como reagir, como em tudo aquilo que não conhecemos na vida, mas dar o ouvido e o ombro de vez em quando não custa. Dá uma oportunidade ao mundo, porque há muita gente boa por aí - a tua família é prova disso <3
EliminarObrigada, eu é que tenho que dizer obrigada aqui! Às vezes receio não fazer a coisa correcta - pelo menos alguma coisa devo estar a fazer bem, então :)
Ao ver o vídeo, tive de me lembrar de uma coisa.
ResponderEliminarHá séries que já tentam abrir os olhos da sociedade para estas doenças. Uma vez, no meu blog, falei de My Mad Fat Diary e tive uma resposta que me revoltou bastante. Foi algo como "Já tentei ver, mas era tão deprimente que acabei por desistir." Só consegui ficar a perguntar-me como essa pessoa queria que fosse uma série que trata este tipo de assunto? Se trata de depressão, problemas de auto-estima, da tentativa de superação desses problemas... Era suposto ser como? Engraçada? Fiquei mesmo aborrecida com aquilo.
Outro caso, é "You're the Worst". Na segunda temporada da série, abordam a depressão clínica. Foi das coisas mais bonitas que já vi, porque souberam passar a mensagem de uma maneira tão especial e fofinha... Tentaram mostrar como ajudar, tal como fazes aqui. Sabes o que foi que mais li? "Ai esta série era tão engraçada. Já não suporto ver a Gretchen deprimida." e coisas do género.
Onde está a sensibilidade destas pessoas? Enfim, ainda há muito que caminhar, até a sociedade começar a pensar que, "se calhar", não é só chato para quem "nos atura".
Desculpa o spam. Queria só que ficasse também o testemunho de alguém que vive com essas chatices. :) Um beijinho. E, mais uma vez, obrigada.
Confesso que não conheço nenhuma das duas séries, mas pelo que descreves esse tipo de comentários só pode vir de malta com 0 sensibilidade...mas afinal, não vemos muito disso? Basta olhar para os noticiários, infelizmente o que vende é a desgraça alheia e pouco mais. As histórias bonitas e as aprendizagens são postas de lado. Até quando há algo de útil a retirar de programas assim (não sei se se tratavam de reality shows, mas suponho que pela perspectiva até podiam ser algo do género mas em versão mais séria), há pessoas que preferem divertir-se com isso. É o bullying levado à idade adulta...infelizmente vai sempre existir. O caminho faz-se tentando ver o nosso próprio valor e racionalizando esses comentários - que, tirando o quanto magoam, não são mais do que perfeitas parvoíces!
EliminarObrigada por vires cá <3 e um abraço do tamanho do mundo! Se te puder ajudar em alguma coisa, conta comigo *
Se estiveres a referir-te às séries que menciono, não se trata de reality shows. E são ambas muito interessantes, na minha opinião. Acho que mesmo que não me identificasse com o assunto, iria adorá-las. :) Mas até mesmo em RS, vemos a tristeza do nosso mundo. O tempo que as pessoas despendem a odiar alguém que só conhecem daquilo, que ainda para mais é manipulado ao máximo (como nos mostra outra série: UnREAL)...
EliminarE já ajudaste, mesmo sem te apercebeste. Não imaginas o que significa ver que alguém se esforça a este ponto, para ajudar a que estas doenças sejam entendidas.
Um beijinho grande
Aiiiii! *aperceberes
EliminarTenho que investigar mais sobre isso! O conhecimento não ocupa lugar, e só pode ser útil :) Obrigada pela recomendação!
EliminarAh, os RS davam pano para todo um fórum de discussão! A manipulação, os conteúdos e a reacção de quem os vê davam pano para toda uma teoria social lol
Com pequenos passos, vamos melhorando este nosso mundinho :) Um grande beijo!
Obrigado, querida :D Depois quero ver tudo :D
ResponderEliminarPor experiência própria, sei que lidar com situações de depressão e ansiedade não é fácil. Muita gente ainda pensa que é algo que podemos controlar e que só estamos "assim" porque queremos mas não é verdade. De todo. Este género de situações vão muito mais além daquilo que possamos imaginar. É o cérebro a trabalhar no sue pleno (da pior forma) e a colocar-nos cada vez mais debilitados. Muita gente também diz que os medicamente são "balelas" mas não é bem assim... Eles fazem com que o nosso sistema nervoso altere (para melhor) e, com isso, deixamos de ter pensamentos focados no "obscuro".
Ótimo post. Às vezes faz imensa falta este género de desmistificações!
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Obrigada pelo teu comentário, Miguel! Sim, faz todo o sentido que a medicação funcione - afinal, muitas vezes estes transtornos são causados por desequilíbrios químicos, são doenças psicológicas com uma origem "física", por isso essa é uma correcção possível!
EliminarObrigada pelo teu texto! De coração :)
ResponderEliminarE sim, a minha terapeuta diz exatamente o mesmo que tu, no último parágrafo.
Beijinho grande,