Fórum de Ideias + Personal | Acerca do Medo

Hoje acordamos, mais uma vez, para um mundo mais negro. A cada ataque, em qualquer cidade, sempre mais negro. Sempre mais assombrado. E não consigo ignorá-lo, porque o mundo não é só coisas boas e comida saborosa e fotografias bonitas de Paris e roupas giras.

Antes fosse, talvez. Ignorance is bliss. Mas não é.


E sim, admito, estes ataques na Europa fazem o meu coração ficar mais apertado do que aqueles que são "lá longe" - por isso mesmo, por serem "lá longe". Não sou uma activista por natureza, portanto o que é mais perto de casa - seja essa casa física ou apenas uma percepção cultural - vai sempre dizer-me mais. Não que as vidas dos franceses ou de qualquer europeu valham mais uma migalha que seja do que a de qualquer turco ou sírio, mas sim porque é mais perto. Não me orgulho desta sensação, mas acabo por conseguir racionalizar este comportamento e entender que o mundo ocidental se sente sempre mais afectado quando são os "seus" que são atacados.

E as minhas certezas ficam-se só por aqui. Porque neste momento não faço a mais pequena ideia de como o mundo funciona. Não faço a mais pequena ideia do que podemos fazer. Não faço a mínima ideia de qual será a solução. O que sei é que é deste terror instalado que os refugiados do Médio Oriente fogem todos os dias e mesmo assim continua a haver muita incompreensão da parte do mundo que se diz "civilizado" e "progressista" e tudo mais.

Sinto um sentimento de culpa por achar que o Ocidente devia ser mais agressivo - sou absolutamente contra a guerra, e, no entanto, é a única solução que me parece possível neste momento. Bem sei que já há uma guerra em campo, mas parece mais um jogo político que tira as vidas a milhares de inocentes do que uma luta contra um grupo de fundamentalistas megalómanos e com espírito de tiranos. Não sei. Não faço a mínima ideia do que estou aqui a escrever. Já não percebo nada...

Perdoem-me o desabafo e o tom desanimado. Gostava de fazer disto um espaço de discussão. Gostava de saber o que pensam sobre isto, que soluções vos vêm à cabeça, o que é que acham que o comum dos mortais pode fazer neste momento.

A única coisa que sei é que o ódio gera ódio. E parece que o mundo está cada vez mais cheio dele...e que nos vamos habituando a isso.


20 comentários :

  1. « Porque neste momento não faço a mais pequena ideia de como o mundo funciona. Não faço a mais pequena ideia do que podemos fazer. Não faço a mínima ideia de qual será a solução.» É isto... é muito isto. E é tão triste. :(

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  2. medo muito medo é o que sinto cada vez mais após estes ataques. tenho sempre receio e penso sempre "hoje lá, amanha talvez aqui?" é muito triste isto tudo hoje de manha quando li sobre este ataque o coração fica muito apertado, tenho lá uma colega que escapou por um triz mas ao menos está bem, já o mesmo não se pode dizer pela quase centena de pessoas que perderam a vida :/

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    1. É horrível, e é inevitável pensarmos "e se fosse comigo ou com os meus?", principalmente quando nos acontece à porta. Confesso, acho que não devemos viver com medo, mas quando estive em Paris houve momentos em que o meu cérebro me levou a olhar à minha volta a tentar descobrir algo suspeito...e isto só piora...

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  3. Acho que é muito mais fácil dizer que não devemos ceder ao medo quando ainda vemos os ataques "só pela televisão", mas acho que é mesmo o que devemos fazer. Não ceder ao medo e não alimentar ódios nem discriminações. Tal como tu cada vez fico mais triste com este mundo e impotência que sentimos perante estes factos é também aterradora.

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    1. Sim, concordo a 100% contigo. Não sei se fosse "aqui" se reagiria da mesma forma, mas não podemos parar de viver - isso seria fazer a vontade a quem só quer espalhar o terror...é uma visão um pouco naïve das coisas, mas acho que é a única forma de mantermos alguma sanidade no meio disto tudo...

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  4. É horrível, tudo... Fiquei mais uma vez acordada, a acompanhar na televisão, sem conseguir perceber como e porquê e para quê alguém faz isto.
    Apesar de perceber o que sentes em relação à distância, a mim afeta-me igualmente quer seja em França ou no Médio Oriente. No início deste mês morreram mais de 200 pessoas num atentado num mercado em Bagdade, e eu estava numa festa de anos de uma familiar. Estávamos todos em frente à televisão, a conversar, e mais ninguém olhou dois segundos. Essa indiferença magoou-me e preocupou-me muito, talvez porque devido ao meu treino académico aprendi a deixar de distinguir entre "nós" e "eles", uma coisa que devia ser básica. Há até quem diga que não é tão mau "lá" porque "eles" já estão habituados, e "nós" não. Acho que só haverá uma diferença no que sinto se houver um atentado em Portugal, mas nesse caso será pela perceção de maior risco para a minha vida.

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    1. O único "porquê" que consigo imaginar é pura maldade, e confesso que me custa a acreditar que alguém seja assim tão diabólico só porque sim...
      Sim, já reparei no mesmo - quando é mais próximo afecta-me mais, mas os que são "longe", "lá" no Médio Oriente não passam ao lado. São vidas humanas ceifadas sem qualquer motivo, é horrível haver esta sensação generalizada de indiferença porque já é "normal"...não é normal, não pode ser!

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  5. É horrível o que esta a acontecer no mundo, parece que isto não tem fim...
    No fundo não temos que rezar por nenhum pais, temos mesmo que rezar pela humanidade e pelas pessoas que são más e vêem prazer nisso! Espero que este pesadelo acabe rápido

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    1. Sim, não tem mesmo fim à vista, o que torna tudo muito mais assustador...correndo o risco de parecer insensível, acho que neste momento o melhor não é rezar - mesmo. Tendo em conta que todo este drama tem como "desculpa" a religião (que honestamente não me parece que seja o verdadeiro motivo por trás de tudo isto), acho que temos mesmo que olhar para dentro de nós e ver se descobrimos uma solução que não implique a morte de milhares...não está fácil :(

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  6. Quando chegam notícias destes atentados eu sinto-me tão impotente... E mentiria se dissesse que me preocupo igualmente com povos mais distantes. É verdade que todos merecem o nosso respeito (e têm-no!) mas, como disseste, dói sempre mais quando acontece mais perto de nós. É horrível, não há palavras...

    Beijinhos, Dalila ♡ | The Lost Louboutin Blog | GIVEAWAY A DECORRER ❤ |

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    1. É a sensação de proximidade a aumentar a sensação de realidade de tudo isto...

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  7. É uma situação tão complexa. Uma mistura de extremismo, crenças religiosas, exclusão social, antigos ódios e desejo de vingança... Mas tudo vai dar ao mesmo: pura maldade. Tenho muito receio dos caminhos que esta situação vai tomar. Acho que já estamos em guerra há muito tempo. Não uma guerra de armas, mas uma guerra social, de ideologias e, sobretudo económica. É esta última que infelizmente rege tudo! Porque por um lado, uns defender a paz. Mas por outro estão a alimentar os terroristas. Enfim, um dia de cada vez e vamos lá ver onde isto vai dar!

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    1. Sim, concordo contigo - a questão social e a económica são essenciais para resolver isto tudo, mas infelizmente parece haver mais preocupação com a segunda do que com a primeira.

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  8. Eu compreendo esse sentimento do por ser mais perto parece que nos fere mais. Tenho uma amiga e familiares a viverem a poucos metros do Bataclan e quando ocorreram os atentados de Novembro só descansei quando consegui saber se eles estavam bem. Tenho colegas a trabalhar em Bruxelas, quando aconteceram os atentados de Março, mais uma vez fiquei com o coração apertado. E agora em Nice a mesma coisa pois também tenho lá pessoas conhecidas. Acho que é o facto de a maioria de nós ter essas ligações que faz com que nos sintamos mais afectados. Pelo menos no meu caso é assim. Mas claro que me faz confusão o facto de a comunicação social não dar a mesma importância nem o mesmo destaque quando estes atentados ocorrem em Bagdad ou em Istambul ou na Síria. Se bem que, por outro lado, acho que não deveriam mediatizar tanto estes ataques pois é esse o objectivo dos terroristas, mostrar o que podem fazer e assim espalhar o pânico e condicionar a vida das pessoas. E, de facto, estão a conseguir isso mesmo :(

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    1. Sim, acho que passa por aí. No meu caso, não tenho ninguém em nenhuma dás cidades atacadas - felizmente - para já fico mesmo afectada com a ideia do ataque "ao nosso mundo" e com a maldade que impõe todo este sofrimento...em todo o caso, concordo, há demasiado mediatismo e pouca reflexão sobre possíveis soluções - isto só ajuda a exacerbar a intolerância que alimenta tudo isto!

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  9. O mundo sempre foi isto: guerras e morte. Só que porque é lá longe ninguém se importa. Ao atacar o mundo ocidental, é extamente o que o estado islâmico quer. Incutir o medo, fazer com que as pessoas escrevam sobre o horror e etc e que se sintam desanimadas e deprimidas. Sabes o que faço? Partilho as fotografias bonitas de Paris, partilho roupas dgiras, porque a mensagem que quero passar é que por muitos atentados que eles façam eu recuso-me a ceder aos ideais deles. E a luta tem de ser isso!! Deixarmo-nos de lamechisses!! Homenagear aqueles que morreram, mas nao mencionar quem o fez, deixar de passar imagens em replay, porque eles ja tem mais mediatismo daquilo que merecem
    Por onde anda a Sofia?

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    1. Concordo contigo em algumas coisas, discordo em outras. Não acho que ninguém se importe. Acho que é normal que nos afecte mais quando está à nossa porta. Ter medo não é ser lamechas, é ser humano. Não é não ter medo que faz de nós fortes e corajosos, mas sim a forma como lidamos com ele - e nisso, dou-te razão, a vida tem que seguir caminho e não devemos ceder - em Paris estava atenta, mas não deixei de lá ir só por ser um potencial alvo. Não vou dar esse gosto a nenhuma destas almas distorcidas, podes ter a certeza. E sim, também concordo que há demasiado mediatismo em torno disto - as imagens de desgraça vendem sempre mais do que as reflexões que daqui temos que tirar, o problema é que alimentam a intolerância que alimenta tudo isto...

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  10. Pois é Jiji, eu até consigo compreender que afecte mais quando é mais perto, mas eu não funciono assim. Seja na Europa, na Ásia, em África ou noutro qualquer canto do mundo, vai-me tocar exactamente da mesma maneira. Exactamente porque somos todos humanos. Essa "separação" de que falas não é propositada, bem sei, mas faz-me um pouco de confusão. Para mim, não é por ter sido em Nice que fez com que o meu coração ficasse mais apertado do que quando foi (e é, ainda é, praticamente todos os dias...) na Síria. Mas eu não consigo sentir de outra maneira, da mesma forma que tu também não deves conseguir. E sei que não é por maldade :)

    Acabar com as guerras era muito fácil, sabes? Em teoria. O problema é que há sempre interesses pessoais em todas as guerras. Há sempre pessoas a lucrar (e muito) com tudo isto. Há sempre umas almas (que não sei como conseguem dormir sem ter pesos na consciência) que pela frente dizem que "temos de acabar com o terrorismo!" e por trás são quem lhes vende as armas, para terem lucro. O dinheiro é algo muito poderoso, infelizmente. Da mesma forma que o dinheiro para comprar as armas vem, em grande parte, do petróleo. Petróleo esse que é comprado por quem diz que está a combater o terrorismo, quando na realidade o está a financiar. É este o ciclo: eu digo publicamente que quero acabar com o terrorismo, mas vendo armas aos terroristas para ter dinheiro para lhes comprar o petróleo que vou usar no meu carro novo. Simplificando, claro está.

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    1. Entendo-te perfeitamente, Catarina, a sério - como disse, não é, de todo, uma sensação de que me orgulhe porque sei que não é justa. Mas, ainda assim, considero normal. Por isso é que não ando por aí a censurar quem se queixa de atentados na Europa e não se queixa dos restantes - considero normal que haja mais empatia com realidades que nos são mais próximas.

      Em teoria, claro. Os jogos económicos são poderosíssimos. A questão é que neste momento o mal já está feito, e mesmo que esses jogos deixassem de repente de "valer", continuaríamos com o problema em mãos...

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